LINDO MONSTRO
Não sou assim tão feio, disse o monstro,
A ver-se ao espelho.
Dos olhos, o do meio, ora azul, ora vermelho
e pestanudo, dá-me um ar singular,
Tal como a tromba a badalar
e o pontiagudo dente
que não sei disfarçar
de tão evidente, saliente
ao sorrir e ao falar
e que, por ser maior, coisa pouca,
me alarga de mais o canto da boca.
Mas há pior, mais feios,
feios, de uma fealdade louca
cheios de verrugas
que nem tartarugas.
Monstros a valer.
Feios, feios, feios
Que mais não podem ser.
Feio, eu? Cabeçudo? Façadunho? Orelhudo?
Ora. Paleio.
O que eu tenho é um mau parecer.
(in "Poesia para todo o ano", 2013, Porto Editora)